Como eu vim parar aqui?

 

Depois de dormir sob as estrelas! E foi assim…

Na manhã do dia 7 de novembro de 2016 eu coloquei a mochila nas costas com a intenção de escalar a Cachoeira do Tabuleiro, a terceira maior cachoeira do país, com quase 300 metros de altura.

Com pouco mais de 4 anos praticando o esporte, eu estava assustada. Não porque me sentisse despreparada, afinal sempre fui dedicada aos treinos. Mas porque aquela parede era majestosa, escalá-la seria um desafio enorme, tanto físico quanto mental. A idéia de subir aquela rocha rosada era ao mesmo tempo sedutora e tenebrosa. Eu ia me colocar no limite inúmeras vezes. Mas tudo que eu havia feito no último ano era me colocar no limite e já havia pego gosto pela sensação de não saber se seria capaz, e pelo sabor de descobrir que era capaz de muito mais coisas do que imaginava.

Joguei a mochila nas costas.

Apesar da quantidade de equipamentos, estava leve. Quer dizer, não estava. Tinha o mesmo peso da mochila que passei anos carregando, com uma diferença: EU estava leve! Não carregava as pressões e medos que me acompanharam nos anos anteriores. E isso faria toda a diferença. Um “reset” mental faz milagres, te faz até subir 300 metros de parede!

Ao lado de Lucas (também conhecido como “Jah”), parti rumo a uma das maiores aventuras da minha vida.

Outra coisa que eu havia descoberto recentemente era a importância de estar em boa companhia. E eu estava em boa companhia! O Lucas é o tipo de pessoa que você quer ao lado numa situação dessa.: tranquilo, e tem total domínio sobre o que faz. Nada ali seria fácil, no entanto me surpreendi com a confiança que adquiri na hora que nos preparamos para subir e o Lucas, sorrindo, disse: “Boa escalada!”.

Dali em diante foi puro desfrute!

No meio da tarde alcançamos o platô onde passaríamos a noite.

Passamos café, cozinhamos, o Lucas tocou cavaquinho, ligamos música no celular…
A noite caiu. Nos enfiamos nos sacos de dormir.
Estava cercada por pássaros, a cachoeira, o despenhadeiro e o indescritível silêncio.
De repente, por trás das paredes de pedra surgiu uma lua enorme. As pedras ficaram prateadas. No escuro da noite, o vale brilhou. À beira do precipício, um paradoxo: minha vida nunca foi tão grande e tão pequena.

Acordar naquele lugar foi outra sensação única. Algo que só aqueles monges que moram isolados no alto das montanhas saberiam explicar. A verdadeira paz de espírito.

Após um café preto e tapioca partimos rumo ao cume. A escalada do segundo dia era a mais desafiadora, com trechos que exigiam habilidade técnica, concentração e muita autoconfiança.
Abaixo o (agora pequeno) poço negro, acima, paredes desafiadoras … e o cume! Era lá que eu queria chegar. E cheguei. Às duas horas da tarde do dia 8 fizemos cume no Tabuleiro. Só de lembrar tenho vontade de chorar. Foi emocionante.
Após um mergulho no poço iniciamos o rapel de descida.
Foi quando olhei para baixo e vi, nos respingos da cachoeira o arco íris que se formava. Era comum arco íris ali na cachoeira, eu já havia visto outras vezes. Mas nunca daquele jeito. Eu estava acima do arco íris!

 

Nós estamos exatamente aonde nos colocamos.
Um dia você pode estar no chão e no outro no cume. Mas ninguém pode te colocar em um lugar ou em outro, apenas, você.
Hoje eu escolho estar além do arco íris!