Cuidado com o que você pede pro universo

 

Uma frase que uso com frequência é: “Cuidado com o que você pede pro universo, porque ele atende.”
Faz muitos anos que eu trabalho com fotografia de eventos, principalmente casamentos. Essa não era a área que eu pretendia atuar quando iniciei minha carreira, vinte anos atrás. Eu tinha o sonho de ser fotógrafa de revistas como a National Geografic, ou revistas de surf.
Mas logo descobri que financeiramente não compensava e que dificilmente atenderia a minha expectativa de ter uma profissão que me possibilitasse  conhecer o mundo.
Comecei fotografando publicidade, mas já faz dez anos que eu fotografo casamentos, algo que me dá um bom retorno financeiro, além de me permitir viajar mais que qualquer emprego fixo permitiria, pois tenho muito tempo livre.
Mas a realidade é que eu simplesmente cansei de fotografar conto de fadas. Eu acredito que duas pessoas podem passar uma vida inteira juntas, meus pais são exemplo de uma bela história de amor. Mas não acredito que o ato de assinar um contrato e jurar amor eterno signifique algo.
Eu queria fotografar vida real, contar histórias que fazem o sangue pulsar!
Pedi demissão, sem ter absolutamente nem um outro tipo de trabalho em vista.
Imediatamente o universo respondeu. Fui convidada para palestrar e tive a oportunidade de conhecer mulheres maravilhosas que também palestraram no evento. Uma delas foi a Mel.
A Mellina é deficiente visual. Ela foi perdendo a visão aos poucos e hoje tem 3% da visão. Isso significa que quando tem luz, ela não enxerga nada.
Mas isso não impediu a Mel de continuar vivendo sua vida normalmente. Ela, claro, passou por um período duro de aceitação, até que decidiu que não dependeria dos outros para viver, (poderia viver apenas com a ajuda da Hilary, sua cão-guia). E assim seguiu vivendo, viajando pelo mundo sozinha, frequentando teatros, cinemas e usando transporte público… sozinha.
Vi no instagram dela que estava fazendo aula de poledance e fiz a proposta de fotografa-la no alto do meu prédio. Expliquei que não tinha grade e que a coluna para ela se pendurar estava a um metro da beira do abismo. Ela aceitou de imediato.
A deficiência lhe dá uma vantagem: ela não passaria pela vertigem de olhar para baixo e ver o tamanho da queda.
Então a noite caiu… Ela falou: “Consigo enxergar um pouco. Como é linda a vista aqui do alto, posso ver as luzes da cidade.”
Fiquei emocionada de saber que os 3% de visão lhe proporcionavam apreciar a cidade do alto do prédio.
Dias depois eu filmei o pôr do sol da minha varanda e publiquei nos stories do instagram. A Mel respondeu: “Estão todos falando do pôr do sol hoje!”
Então percebi que meu filme nada dizia para ela sobre a maravilha que estava acontecendo e respondi:
“Estava vermelho com o resto do céu azul rosado, não era o amarelo alaranjado de sempre.
O sol se pôs atrás do meu prédio. Todos os prédios da frente ficaram iluminados por uma luz cor de rosa. Acima deles o céu azul, já um pouco escuro, só que rosado. Do outro lado, onde o sol se punha, uma céu avermelhado. Tudo isso somado às luzes da cidade acesa.”
E ela me respondeu com coraçõezinhos…

Obrigada Mel por me dar “vida real”. Obrigada por me dar a oportunidade de descrever as belezas do mundo.
Obrigada universo por atender o meu pedido.
Não sei descrever em palavras como estou feliz por seguir o caminho que meu coração pede, só o que posso dizer é que parte disso escorre agora pelos meus olhos.

E a Mel é a ESTRELA #02 da revista Sob as Estrelas.
Na coluna Estrelas, fotos da Mel e o texto Mel por ela mesma. Conheça um pouco da história dessa linda mulher.

A partir de agora tentarei tornar minhas redes mais acessíveis.

 

#pracegover: na foto a Mel dança poledance na beira da laje do prédio de 12 andares, segurando a barra com a mão esquerda e a perna esquerda enroscada na barra, um metro da beira, sem nenhuma cerca. A foto é preto e branco, a volta dela tem as antenas do prédio e ao fundo a cidade iluminada pelas luzes noturnas.