O corpo em que viajo

 

Não me lembro bem quando descobri que “ir por aí” era a melhor coisa que eu poderia fazer por mim. Não sei se foi aos cinco anos, quando eu viajava grudada na janela vendo tudo passar rápido do lado de fora; se aos 12, com meu walkman sintonizado na rádio que pegava no caminho. Tem chance também de ter sido aos 21 quando fui pra São Paulo (de avião) pela primeira vez, com meu próprio dinheiro e ainda segurei na mão da moça sentada do meu lado de tanto medo daquela história de voar.

 

Fato é: hoje tenho 35 anos e amo viajar, mesmo não viajando há mais de um ano.

 

Enquanto escrevo esse texto, planejo mais uma viagem: vou para a praia quando a pandemia passar. Aquela mesma que bota medo em quem é gorda. Mas não é disso que quero falar agora. A coisa, para mim, é criar formas para me colocar em movimento. Para perto ou para longe. Com muito ou pouco dinheiro, sempre tem caminhos para todos os bolsos. Ainda acho que viajar é um privilégio, mas também é preciso reconhecer que viajar não é só ir passar um mês na Europa ou Noronhando-se. Viajar pode ser ali, do lado da sua cidade, no centrinho que você nunca teve a curiosidade/possibilidade de desbravar.

 

O que mais aprendi com esses quilômetros rodados é que: além de viajar ter me salvado nos momentos mais difíceis, independente do destino, meu corpo gordo sempre estará comigo. Às vezes ele será olhado, julgado, mas também será ele a minha principal casa e o que me botará em movimento. Viajando aprendi a respeitar mais os meus limites e a testá-los. Me conheci. Aprendi que tá tudo bem brigar com a mala porque acho que não tenho uma roupa legal o suficiente pra levar pra tal lugar, só não posso deixar de ir por isso. Também está tudo bem levar quase meia hora para subir aquela escada de 551 degraus, só não vale achar que o cansaço vai ser maior do que o prazer daquela vista lá de cima. E se for, tudo bem também ficar um dia no meio da trip de pernas pra cima, descansando, curtindo a caminha do hostel/hotel/albergue/acampamento/resort. Só não vale não ir.

 

E nada de passar vontade de aventura ou de comida no passeio. A gente precisa experimentar, se permitir, querer, comer, pular e, de novo, ir.

 

Durante meus planejamentos já me questionei se eu seria ou não capaz de ir. E sei que o medo de não conseguir já me deixou em casa muitas vezes e deixa muita gente. Mas por quê? Não sei. Só sei que faremos desse espaço um lugar de troca de experiências, vivências, dicas e tudo que couber nessa mala. Nos colocaremos em movimento. Sonharemos juntas. Viajaremos juntas.

 

Então, calça o tênis, aperta o cinto, e pé na mala (ou na jaca).

 

Vamos juntas

 

Veja mais de Polly no instagram e no podcast

 

Leia também:

Arruma a mochila e vai!